O Boaventura era um vaqueiro da fazenda "São Sebastião". Ele tinha um grande amigo, o Merandolino, mais conhecido como Merá. Eles estavam sempre juntos nas festas, nas bebedeiras e no comércio do Miguelão. Certo dia, Boaventura estava com os companheiros de trabalho, quando atravessou o lago Piratuba, pertencente à mesma fazenda. Naquela oportunidade, ele desapareceu misteriosamente nas águas do lago. Três anos após seu desaparecimento, Merá cavalgava pelos campos marajoaras, ainda recordando do amigo sumido, quando se espantou com uma voz pronunciando seu nome vindo de um homem que dizia ser o Boaventura. Ele estava parado na sua frente, nu da cintura para cima, com um chapéu de grandes abas escondendo seu rosto. Boaventura montava seu cavalo baio. Os arreios eram tão bem cuidados que as argolas brilhavam muito. Dai em diante, eles passaram a se encontrar. Boaventura quis ajudar o amigo e ofereceu uma "botija" cheia de jóias que estava enterrada, mas, Merá não aceitou. Mesmo tendo encontrado todas as pistas de locolização do tesouro dos finados colonizadores (naquela época não havia banco) Merá não quis o presente porque, se aceitasse, partiria de Soure para sempre e sofreria terrível maldição. Muitos anos depois Merá morreu. Enquanto o pessoal da fazenda velava o corpo, viu chegar um rapaz que não saudou ninguém. Ele ficou parado na porta, olhando firme para o corpo do falecido. Depois, se afastou e desapareceu. Os presentes no velório diziam que era o Boaventura que se despedira do amigo. No aterro do lago Piratuba existe um cajueiro. Em suas raízes há uma poça d'água que nunca seca. Dizem ser ali a morada do vaqueiro encantado. E quem apanhar um caju dessa árvore, sem lhe pedir licença, é atacado por centenas de cabas. Até hoje os conterrâneos e visitantes que passam pelo portão da fazenda "São Sebastião" pedem licença ao vaqueiro encantado. Se não o fizerem, eles correm o risco de serem vítimas de alguma coisa ruim. Boaventura exerce grande influência no cotidiano dos vaqueiros, principalmente quando eles perdem animais, logo lhe pedem ajuda, oferecem em troca alguns presentes, colocados no meio do campo. No dia seguinte os búfalos são encontrados presos no curral à espera do dono.
***** Do Autor: Dilomeno Márcio Maués Vitelli - é caboclo marajoara nascido no município de Soure, é pedagogo, radialista, funcionário público e poeta. * FOTO: Vaqueiro da Fazenda Tucunarézinho * |
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