Óleo s/tela 30 x 50
* EU, O BOTO
Eu venho de um mundo que tu não conheces: do onde, do quando, do nunca, talvez ...
Eu venho de um rio perdido em teus sonhos, num rio insondável que corre em silêncio entre o ser e o não ser.
Eu venho de um tempo que os homens não medem: nenhum calendário registra meus dias.
Sou filho das ondas que gemem na praia, sou feito sombra, de luz, de luar e trago em meu rosto mandinga e mistério, e guardo em meus olhos funduras do rio.
Cuidado, cabocla ! Cuidado comigo que sou sempre tudo o que anseias que eu seja: teus ais, teus segredos, tua febre, teu cio ...
Se em noite de lua sentires insônias e a fome de sexo queimar tuas entranhas, a sede de beijos tua boca secar e em brasa o teu corpo meu corpo exigir, contigo estarei na rede do encanto cativo nas malhas da teia do amor.
E quando teus olhos fitarem meus olhos, e quando meus lábios teus lábios tocarem, e quando meus braços laçarem teu corpo, e quando meu ser em teu ser penetrar, só então saberás quem sou e a que vim.
E assim que a semente do amor, do desejo, vingar no teu ventre gerando outro ser, não mais estarei contigo, somente a minha lembrança permanecerá boiando nas águas barrentas e confusas, da tua memória cansada, febril ... - Foi sonho? - Foi fato? Ninguém saberá !...
***** Autor: meu poeta marajoara ANTONIO JURACI SIQUEIRA *
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