Carrego um rio em minha alma que, às vezes, sem piedade, faz transbordar suas mágoas num turbilhão de saudade.
Camarão preso na grade do matapi resistente, assim também é a saudade presa no peito da gente.
Saudade - lenço à distância dobrando a curva da vida... Saudade - traços da infância em nossa mente imprimida...
A Inocência era menina e eu, também , um curumim. Ela, dengosa e ladina, jogava versos assim:
"- Lá vem a garça avuando cuma tesoura no pé pra cortá a língua dos zome que fala mar das mulhé!"
Um quati-mundé que via seu orgulho machucado, de poeta eu me vestia e dizia, em pé quebrado:
"- Condo vim da minha casa deixei um urubu cum fome pra cumê as língua das mulhé pra num falá mar dos zome!"
Por detrás do cachimbo fumegante de barro e taquari, vovó cismava... Ás vezes debulhava pensamentos e de quando em vez abria a mala do amor pra dizer coisas assim:
"- Joguei um buçu pra riba que foi batê nim Belém: deu na barca, deu na barra, deu no peito do meu bem!"
Um dia com os olhos cheios de tudo o que comungou, fitando o passado um velho ribeirinho me falou:
"- A sodade é dô pungente que deixa a gente mufino...
Sodade é bicho malino bulino dentro da gente!..."
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Do livro: Canto Caboclo - Trilogia Amazônica * |
Querida, Marli, eu sou apaixonada pelas "Marés" de Antonio Juraci, cada uma mais bela que a outra.
ResponderExcluirEsse poeta paraense é demais, demais.
Dáguima querida,somos mundiadas por este boto encantado e suas poesias cada vez mais encantadas, belas e tocantes. Como você diz: ele é demais,demais.
ResponderExcluirMeninas, manerem. Olhem que o boto enfarta!...
ResponderExcluirObrigado pelo carinho, pela amizade e pelo
gosto de navegar comigo por esse rio de palavras e emoções.
Meu querido boto, não é pra infartar, é pra ficar todo faceiro...
ResponderExcluirTe adoro!