MARÉ BOIÚNA
Contou-me um velho vaqueiro
que na Ponta do Sossego,
no município de Soure,
morava uma cobra-grande
como nunca antes se viu
tão perversa e violenta,
terror daquele lugar.
Essa serpente tinhosa
em sua sanha voraz,
derrubava ribanceiras,
afundava embarcação
devorando os passageiros
e pondo desassossego
em toda população.
Até que um dia um pajé,
-contava, o velho caboclo,
com brilho grave no olhar-
a peso de reza forte
a prendeu dentro do rio
com três fios de cabelo
de três virgens cunhatãs,
Mas o tempo - ratazana
voraz - da bicha apiedou-se
e com dentes afiados
foi roendo, foi roendo
os três fios de cabelo
até que dois se romperam
e tão somente um restou.
E me falava o velhinho
- pavor grelado nos olhos! -
que depois do último fio
de cabelo arrebentar,
a boiúna, enlouquecida,
boiará das profundezas
e a cidade afundará!...
*****
Do livro Marés - poemas de argila e sol
***
Foto:Bolsa confeccionada em lona crua, pintada à mão "A lenda da Cobra Grande", com aplicações de sementes regionais e cascas de coco.
***** |
Nenhum comentário:
Postar um comentário