“A natureza está secando”: quilombo no Marajó vive impactos do arrozal e clima de violência

SEJAM TODOS BEM-VINDOS!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

FELIZ ANO NOVO !!!


*****

Da foto: O dia raiando na baia do Marajó!

*

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

TURU - o viagra do Marajó !


O TURU é um molusco que vive dentro de troncos de árvores apodrecidos caídos no mangue, é gelatinoso, corpo alongado e cilíndrico, bem mole, tem a cabeça dura e possui uma espécie de broca que usa para perfurar o tronco deixando cheio de furos é considerado como afrodisíaco.
Come-se cru com sal e limão ou e faz-se o caldo com diversos temperos, como o da foto acima.`É uma delícia!

*

Veja como se tira o TURU do pau:

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

CHULA MARAJOARA - trecho livro Ruínas de Suruanã


- Mané-coquinho, cumo era memo aquela chula qui ocê fez pra D. Minervina, aquela qui cantava o vistido dela? - Tagarelou Zé Pretinho, sem largar o diadema de penas.
- Já tá fora di moda. Ela inda era sortera - Aparteou Erotildes, com despeito , pondo mais fumo no taquari.
- O qui é bom num sai di moda. Canta Mané, pra alegrá a gente - interveio o queijeiro, talhando saco de coalhada.
- Ei Argemiro, vem cumpanhá o Mané no violão - chamou outro. O vaqueiro levantou-se da escada, não sem espichar um olhar para a Casa-Grande onde a noiva morava.
Mané pigarreou, afinou o instrumento e soltou a chula que fizera numa festa de São João, quando Minervina chegara muito formosa, toda de vermelho.

Mulata, cumo eu quisera
sê teu vistido incarnado!
Mulata, ai quem mi dera
vivê nu teu corpo incostado.

Achei tão escandaluso
e tão justo o teu vistido,
por demais audaciuso,
por demais a ti unido.

Qui tive um sério dispeito
du teu vistido incarnado,
tão coladinho em teu peito
conto eu di ti afastado.

Na festa du barracão,
condo chegaste facera,
teu vistido vermelhão
parecia uma fuguera

A incendiá os coração
tu dançava um machucado
dispertando as atenção
o teu vistidu incarnado

E bem tarde já cansada
fuste ao terrero varrido
abanaste afugueada
o decote do vistido

E pensando tá sozinha
tiveste gesto atrivido,
abriste certa molinha
bem no meio do vistido

Sinti o oiá graduado
cuntinuei iscundido
aguardando esperançado
qui abrisses tudo vistido

Mas vortaste ao barracão
nu teu andá rebulado
fuguera di S, Juão,
u teu vistido incarnado.

Mulata, ah! si eu pudesse
a ti mi vê munto unido.
Mulata, ah! si eu tivesse
a sorte du teu vistido!

*****

# A Chula Marajoara é uma dança cultural no ritual afro-brasileira. No Pará é cultivada principalmente nas regiões onde se instalaram os negros escravos, com mais frequencia em Cachoeira do Arari, na ilha do Marajó, por isso recebeu este nome.

*

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

TEM BOTO NA REDE DO TUNICO - Associação Cultural Dalcídio Jurandir



*Filmado em Ponta de Pedras - Marajó - Pará


*É um filme de produção simples mas muito interessante, conta a história de uma jovem chamada Raimunda, que foi morar pra Capital, e tempos depois volta pra Ponta de Pedras acompanhada do namorado e cheia de pavulagem, já não quer ser chamada de Raimunda e sim de RAY, só no salto alto, e por ai vai.....


*


*A Associação Cultural Dalcídio Jurandir, foi fundada em 04 de Abril de 2006, na cidade de Ponta de Pedras, ilha do Marajó, Pará, funcionando na Av. Raimundo Malato, nº207, bairro do Campinho, como uma sociedade civil de direitos privados, sem fins lucrativos, que tem por finalidade promoção cultural, social e de lazer, com vigência indeterminada com o objetivo de promover atividades artísticas e culturais visando colaborar com o desenvolvimento sócio-cultural da comunidade Pontapedrense.
A referida associação é uma entidade que desenvolve diversos  projetos como: oficina de artesanato, teatro, fotografia, filmagens, edição de imagens, palestras e cinema na área rural (estradas e áreas ribeirinhas) exibindo vídeos educativos e filmes produzidos na própria cidade.
Fonte: Blog da associação.

*

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

MASTRO BASTIÃO - Ronaldo Silva


MASTRO BASTIÃO

Sertão de lago,
palafita escura
depois do verão,
a chuva aqui faz invernar
Encharca a terra
com água barrenta
alagando de vez,
ligeireza de raio
Despenca moinho
vergando nos galhos
de vento de açoite,
de tanto girar
Chove miúdo
nos campos de Cachoeira
vi chegar mês de janeiro
vejo Bastião passar
Mastro "porrudo"
vem trazido lá do Teso
te juro que não careço
desse macho "arrecuar''
meteu cabeça,
é mais embaixo a "recalçada"
e o cara foi dar com cara
pra aprender me respeitar
Chove miúdo
nos campos de Cachoeira
e um vaqueiro sem costela
eu nunca vi nada pior
Anda "avexado"
o jeito é só criar novilha
que as maravilhas
nunca pode apreciar
vai carga pensa no
ponteio da viola
ligeiro vai sem demora
pro tio Lero "bulerá"
Convide a dama
pra dançar um chalalá
dança menina, dança rapaz.

*****
RONALDO SILVA - Compositor, percussionista, cantador e pesquisador. Desenvolve trabalho voltado para o fomento e valorização das linguagens e ritmos da Amazônia brasileira.
Idealizador e fundador do grupo Arraial do Pavulagem.

*

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

AS RUÍNAS DE SURUANÃ - Sylvia Helena Tocantins

Esta obra é o registro precioso dum Marajó que já era. A baeta encarnada foi trocada pela capa de napa, o chapéu de carnaúba pelo capacete de plástico, o patchuli foi esquecido para dar espaço ao extrato barato. Programados pela economia de consumo, os seres humanos viram autômatos, que tem o mesmo cheiro e a mesma fala imposta pela rádio e a TV........Padre Giovanni Gallo.

 ****

O Marajó pode ser visto por muitos prismas. Eu prefiro ver dentro da grandiosidade paradisíaca que a natureza lhe oferece. Ambiente rude e agreste, mas pleno de encantamento. Lá na hora cismativa do poente, Deus é quase palpável. Sentimos a sua presença bem de perto.
O marajoara é acomodado como a canarana e o mururé que dormitam em cima d'água e só caminham quando a maré os leva. Devia ser como a jacitara que se apega aos altos troncos, vai subindo até tomar sol lá em cima. Vive num cenário primitivo, enfrenta rigorosas invernadas de pé no chão e chapéu de palha. Suporta o verão causticante e o juquiri espinhento que nasce na terroada, mas está sempre de bom humor, conformado e acha remédio pra tudo. Somando tudo isso, o caboclo é um herói anônimo, na luta do ganha-pão.
De uma credulidade máxima, ultrapassando o limite da suposição e atingindo o lado sobrenatural das coisas, vive o nativo da ilha, num labirinto fascinante de lendas e "causos", campos e cerrados, planícies e igapós. Conserva a crendice das gerações antecedentes, fiéis às suas origens indígenas...
A vida daquela gente tem o mesmo compasso lento do giro vagaroso dos carros de bois..........Marajó é um tônico para os nervos. Relax total, colírio para os olhos. Faz bem a quem vive poluído pelo concreto, nos centros computadorizados. É uma fuga da realidade para o sonho........Sylvia Helena Tocantins

*****

sábado, 3 de dezembro de 2011

OS BICHOS ENCANTADOS DO MARAJÓ


OS BICHOS ENCANTADOS DO MARAJÓ

Baixando o rio, em direção a Laguna, uma localidade distante de Breves, já "pras bandas" de Portel, ia Tio Cabra com sua família, numa canoa a remo. Iam fazer farinha para trocar com alguma comida. No entanto, o que mais nos interessa é o fato ocorrido no caminho da jornada da família Soares até seu destino. Por favor, não se espante com o caso que vou lhes contar. Alguns podem achar que é uma inverdade, mas para os moradores do outro lado dessa imensa ilha é verossímil o que conto. De onde moravam, até onde iam fazer a tal farinha d'água, eram seis horas de remo, isso a favor da maré, mas o "caboco" tinha que ser bom de braço pra garantir a jornada. Antes que me perguntem, para que tanto sacrifício? É que nessa época se praticava aquela velha prática de troca de alimento. Era muito comum a troca de comida, um alqueire de farinha por um fardo de jabá, por exemplo, entre os moradores vizinhos. Isso mesmo, apesar da distância, as pessoas costumam tratar as outras conhecidas de vizinhos. Eu mesmo tenho uma vizinha que mora no Camará, um lugar mais ou menos 15 Km de onde moro. Toda vez que ela me encontra solta aquela frase agradável aos ouvidos, em meio de um sorriso sincero: Ei - vizinho!
Pois bem! no meio da viagem, eles pararam numa casa a beira do rio para esquentar a comida que levavam. Tinham saído cedo por causa da maré. Era quase meio dia, precisavam parar e comer alguma coisa.
Tio Cabra encostou a canoa na ponte, uma tora de madeira escorada no barranco do rio. Gritou para verificar se havia alguém na casa e ouviu uma resposta. Desceu sozinho. Aproximou-se da casa . Parecia deserta. Pensou que se tratava de uma "tapera" - casa abandonada no meio da mata cuja crendice popular afirma ser mal assombrada, porque todos que ali moravam já morreram - mas havia fumaça saindo por detrás da casa, então havia alguém ali. Deu outro grito:
- Ô di casa! E ouviu de imediato um "pode entrar!".
Gritou outra vez:
Ô di casa! E ouviu novamente a frase.
Mas não enxergou ninguém. Será visagem que mora nessa tapera? Pensou o intruso.
Subiu os primeiros degraus da escada da casa, olhando pra cima, de um lado para o outro e não enxergava ninguém. Falou mais uma vez:
Ô di casa!
E bem perto do seu ouvido, escutou aquela resposta. Nessa hora arrepiou-se. Todos os cabelos de sua cabeça ficaram pra cima, sumiu até a cor do beiço. Quando levantou a cabeça avistou um papagaio. Não sou expert no assunto, mas se tratava de um daqueles de testa amarela, que aprendem a falar tudo facilmente. Ficou impressionado. E não é pra menos. Como um animal daquele podia ser tão esperto, tão sabido?
- Cadê teu dono? Perguntou TioCabra.
E ouviu do empenado:
- Tá pra roça, curupaco, tirando madioca, curupaco! Disse o bicho.
Pensou já ter visto tudo na vida, mas isso ficaria marcado para sempre na sua memória. Depois de refletir, rapidamente, sobre o acontecido, voltou a realidade e lembrou-se que estava ali para arrumar fogo para esquentar a comida que traziam.
Olhou para o fogão de lenha onde uma panela fervia incessantemente.  Devem ter deixado a comida aprontando. Não estavam então tão longe os moradores daquele lugar misterioso. Chamou sua esposa que aguardava uma resposta para o pequeno entrava:
- Ei mulher, traz a comida pra esquentar, aqui tem um fogo pronto!
Ficou esperando ela chegar. Enquanto esperava, bateu no bolso da camisa, procurando o tabaco para enrolar um porronca. Achou o tabaco. Pegou a palha do milho, usado como abade e começou a enrolar. Passou a língua para grudar a palha. Bateu novamente nos bolsos, agora procurando o fósforo, que por acaso não trouxera e de repente ouviu o tal papagaio gritar:
- Chico! Chico traz o fogo pro homi, curupaco!
Nessa hora pensou ser brincadeira de muito mau gosto. Até riu meio sem graça. Mas eis que de dentro da mata surge um macaco prego, aparência de primata velho. Foi até o fogão de lenha e pega um tição. Coloca-o bem na frente do assustado visitante, na posição exata para acender o cigarro de palha. Tio Cabra ficou estático, pensando se aqueles animais não seriam encantados, pessoas que foram transformadas naqueles bichos. Não havia uma explicação para aquilo. Procurou uma resposta, não encontrou. Disse obrigado e da ave ouviu um "de nada!".
Quando pensou já ter acabado aquele momento, mistura de emoção e medo, um momento "fantasmático", o animal empenado  deu uma ordem aopeludo, dizendo:
- Chico tá acabando o fogo, curupaco, coloca lenha, coloca lenha, curupaco!
O macaco prontamente pula do beiral da casa, pega um pedaço de perna de calça, tira a panela de cima do fogo, pega uns pedaços de lenha pronta que se encontrava debaixo do fogão e coloca em cima  da brasa ardente, coloca novamente a panela, começando a abanar com abano de palha até o fogo estalar.
Isso foi demais para Tio Cabra e sua mulher que observavam toda aquela arrumação.
- Vumbora mulher, só pode ser coisa do outro mundo! disse o marido muito assustado.
Pegaram suas coisas e saíram às pressas daquele lugar e nunca mais voltaram lá. Dizem que não voltaram porque nunca mais encontraram a tal tapera. Ela desapareceu, como imaginação nas curvas dos rios desse imenso Marajó.

******



DE: Mais um escritor sem livro - Daniel Nicácio


*

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Erê! Meu Marajó


Erê !  Meu Marajó

Erê! Vida nascendo no Marajó
Pirauíba, Aruanã, Acará
Aracu, Poraquê, Tamanduá
Jabotim, Tiepiranga, Corimatá
Tatu, Gaturama, Jacundá

Erê! Vida crescendo no Marajó
Preguiça, Queixada, Anajá
Sarapó, Morcego, Jucá
Muçuã, Tucunaré, Aturiá

Erê! Vida correndo pelo Marajó
Tem-tem, Jacamim, Guará
Anta, Sanguessuga, Muaná
Mucura, Jacaré, Tracajá
Cutia, Coruja, Maruacá

Erê! Vida vagando no Marajó
Aquariquara, Jacurutu, Tarauá
Tartaruga, Caxinguba, Atuá
Curica, Bacaba, Guajará
Jaburu, Maracanã, Camará

Erê! Vida vivendo no Marajó
Caititu, Maguari, Mutuacá
Araçari, Tuiuiú, Maratacá
Capivara, Papagaio, Preá
Urubu, Tucano, Piquiá

Erê! Vida morrendo no Marajó
Camarupi, Muirim, Jaburaicá
Paracauari, Pracuuba, Gurupá
Arari, Jacaretuba, Caracará
Anabiju, Paracaúba, Rio Pará

******

Fonte: vaqueiro marajoara encantarias chulas e ladainhas de Marcos Quinan

*
Foto: Rio Arari

*

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Toada de Pescador - Zezinho Vianna


****
TOADA DE PESCADOR



Peguei a minha canoa e fui passear no rio Arari
Trabalho de pescador joguei minha tarrafa e botei meu matapi


Ai ai amor como é gostoso tarrafear
Ai ai amor juntinhos à beira-mar
Ai ai amor como é gostoso tarrafear


Tem peixe no saco e no castelo
pacu junto com tamuatá


Na proa da minha canoa poronga fica à iluminar
êta companheiro engatou a tarrafa no fundo do mar


Tarrafeando ô ioiô, tarrafeando ô iaiá
O caboclo jogou a tarrafa, e olha o prato que vai ficar


Lago do Tatu, Lago do Guajará
No poção lá das malhadas quero ver peixe borbulhar


Tarrafeando ô ioiô, tarrafeando ô iaiá
O caboclo jogou a tarrafa, e olha o prato que vai ficar


B E L E Z A!


*Letra e música de ZEZINHO VIANNA


*****
Foto: Pescadores no rio Arari


terça-feira, 22 de novembro de 2011

AS 1001 GENTES DE DALCÍDIO JURANDIR

          As 1001 Gentes de Dalcídio Jurandir

É uma das criaturas mais simples deste país de gente importante. E também um dos maiores escritores. Antigamente, de pés descalços e braços nus, corria pelas campinas de Marajó atrás das borboletas azuis que não eram de Casemiro de Abreu. Hoje, de borzeguins e paletó-saco, percorre a Rua do Catete e anexos atrás da vida. É Dalcídio Jurandir. Um romancista tão grande como sua ilha.

A lua e a chuva
 Veio do país das águas, de uma terra que Deus, em fim de obra, deixou sem retoques. Por isso Marajó ficou assim grandona, capaz de engolir vários países. Braba, tosca, mal saída da forma de Deus. Inchada! Não pensem que as noites de Marajó são como as outras  noites. Que esperança! Quando a lua vem a furo é maior que a roda de um carro de boi! Quando chove nos campos de Cachoeira é como se Dilúvio voltasse! É a aurora do mundo à disposição de todos nós. De graça.
   Sem pressa e sem atropelos
Não é fácil falar com Dalcídio Jurandir do Grão-Pará. É um Jurandir arredio, bicho de concha, que aparece nas casas de livros na boquinha da noite. Olha um volume, olha outro, dá dois dedos de prosa ao famoso mercador Carlos Ribeiro, da Livraria São José, para desaparecer como veio. Suavemente, sem fazer barulho, que o lema desse mestre de modéstia é o mesmo de Valdemar Cavalcanti. Isto é, entrar na fila, não atrapalhar os outros, E assim tem vivido Dalcídio Jurandir. Sem atropelar ninguém.
                                        
                                             A importância de usar pasta
 Enfim, estou de Dalcídio Jurandir em punho. Vou caminhando com sua simplicidade pela Rua São José. Cachos de cigarros desfolham dos pés-de-pau. A tarde começa a encerrar o expediente. Senhores apressados, tinindo em seus colarinhos, passam empurrando avassaladoras pastas. Falo da importância desses utensílios na vida nacional. Dalcídio sorri para informar que sempre teve grande respeito pelos portadores de pastas. Principalmente pastas negras. No mínimo são diretores-gerais ou banqueiros em trânsito para os dez por cento ao mês. No mínimo!
  Farinha d'água dos seus beijus
 Conversa puxa conversa. Pergunto pela sua bem trabalhada e lavrada existência de escritor. E Dalcídio: -Mal ou bem venho mergulhado nesse barro há mais de trinta anos, seu doutor. Todo o meu romance, distribuído em vários volumes, é feito, na maior parte, da gente mais comum, tão ninguém, que é a minha criaturada de Marajó, Ilhas e Baixo Amazonas. Um bom intelectual da cátedra alta diria: "são as minhas essências, as minhas virtualidades". Eu digo tão simplesmente: "é a farinha d'água dos meus beijus". A esse pessoal miúdo que tento representar em meus romances costumo chamar de aristocracia de pé no chão. Modéstia à parte, se me coube um pouco do dom de escrever, se não fiquei por lá, pescador, barqueiro, vendedor de açaí, o pequeno dom eu recebo como um privilégio, uma responsabilidade assumida, para servir aos meus irmãos de igapó e barranco. Entre aquela gente sem nada, uma vocação literária é coisa que não se bota fora. A eles tenho de dar conta do encargo, bem ou mal, mas com obstinação e verdade. O leitor que acaso folheie um dos meus romances pode logo achar o estilo capenga, a técnica mal arranjada, a fantasia curta, mas tenha um pouco de paciência, preste atenção e escute um soluço, um canto, um gesto daquelas criaturas que procuro interpretar com os pobres recursos de que disponho.
E a propósito, lembra Dalcídio Jurandir de seu velho tio de Cachoeira, barbeiro e cozinheiro, uma espécie de Brillat-de-Savarin de comarca, gênio de um prato só: o picado fradesco. E Dalcídio: - Não tenho no romance as manhas e perícia que tem meu tio na cozinha. Mas vou fazendo, a meu modo, o meu picado fradesco...
Pára no meio da rua, diz que está falando demais, que a tarde despenca muito bonita para a gente tratar de coisas de letras redondas. E volta ao Jurandir bicho de concha. Quase sem fala. De corda quebrada. [...]
  De repente, a chuva
E, de repente, aconteceu Chove nos campos de Cachoeira, romance que fez Dalcídio voar definitivamente do Grão-Pará para o Brasil. Foi uma estréia de balançar os alicerces. Luminosa! [...] O livro era mais poderoso do que ele. E extraiu Jurandir de terras e águas do Pará. Definitivamente. [...]
  A mentira das distâncias
 E assim se conta, em prosa curta, a pequena história de um grande escritor, o modesto Dalcídio Jurandir, bicho de concha, amigo do silêncio, inaugurado na Vila de Ponta de Pedras na época em que a folhinha marcava precisamente 1909. Era janeiro, mês carpinteiro. [...] Durante trinta anos tem Dalcídio lavrado a sua incomparável lavoura, com obras que vão atravessar os tempos, porque têm a eternidade do povo, a fala do povo, o jeito do povo. Se não é badalado como merece, é porque o tempo não descobriu Dalcídio Jurandir. Mas esse Cristóvão Colombo virá, hoje ou amanhã, dar alto-relevo a romances como Linha do Parque, Três casas e um rio, Belém do Grão-Pará e o belíssimo Primeira manhã, com que Dalcídio engrandeceu a ficção deste país. É um Dalcídio para os dias que virão. Não importa, em termos de eternidade, que o rato pareça maior do que a montanha. É puro erro de perspectivas. Mentira das distâncias.
*******


Fonte: Site Dalcídio Jurandir


*****

ARQUEOLOGIA MARAJOARA - Deo Almeida

Nos tesos do Marajó:

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

DICIONÁRIO CABOCLÊS 5


O sór já tá mordendo a bera do mato...
O sol já está se pondo...

Bote tempo, bote lonjura pra chegar naquela fazenda...
Aquela fazenda é muito longe...

Encarquei a morena cum tuda força...
Apertei a morena com toda força...

Andei bote hora, só na bicora...
Fiquei horas só na espreita...

A água já tá lambendo o assoalho...
A água cresceu que já encosta no piso....

Vigie só a enormidade desse barco...
Veja só o tamanho desse barco...

Humm a água já chegú nos degrau,já inguliu uns par deles...
Humm a água já chegou nos degráus, e já ultrapassou vários deles...

***************

Foto: Fazenda Tucunarézinho

*****

INSTITUTO IMERSÃO LATINA - IMEL: Programação Cultural do II festival de Cultura Mar...

INSTITUTO IMERSÃO LATINA - IMEL: Programação Cultural do II festival de Cultura Mar...: A belíssima cultura marajoara atrai muitos estrangeiros e os brasileiros precisam conhecê-la melhor.Quando morei em Belém -Pará , visitei a ...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Maré Boiúna - ANTONIO JURACI SIQUEIRA


MARÉ BOIÚNA

Contou-me um velho vaqueiro
que na Ponta do Sossego,
no município de Soure,
morava uma cobra-grande
como nunca antes se viu
tão perversa e violenta,
terror daquele lugar.

Essa serpente tinhosa
em sua sanha voraz,
derrubava ribanceiras,
afundava embarcação
devorando os passageiros
e pondo desassossego
em toda população.

Até que um dia um pajé,
-contava, o velho caboclo,
com brilho grave no olhar-
a peso de reza forte
a prendeu dentro do rio
com três fios de cabelo
de três virgens cunhatãs,

Mas o tempo - ratazana
voraz - da bicha apiedou-se
e com dentes afiados
foi roendo, foi roendo
os três fios de cabelo
até que dois se romperam
e tão somente um restou.

E me falava o velhinho
- pavor grelado nos olhos! -
que depois do último fio
de cabelo arrebentar,
a boiúna, enlouquecida,
boiará das profundezas
e a cidade afundará!...

*****
Do livro Marés - poemas de argila e sol
***
Foto:Bolsa confeccionada em lona crua, pintada à mão "A lenda da Cobra Grande", com aplicações de sementes regionais e cascas de coco.

*****

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A Castanha-do-Pará


A castanha-do-Pará atualmente rebatizada de castanha-do-Brasil, é a semente da castanheira-do-Pará, uma árvore nativa da Floresta Amazônica. Embora tenha nomes tipicamentes brasileiros sendo chamada no exterior de "Brasil Nut", ela  está presente nas Guianas, Venezuela, Brasil, leste da Colômbia, leste do Peru e leste da Bolívia.
Para muitos a castanha-do-Pará é considerada uma castanha, no entanto, para os especialistas, ela é uma semente, poque as castanhas são formadas por polpa branca e saborosa revestida por uma casca fina e brilhante, que não é o caso.
Ao contrário, seu fruto é um pixídio lenhoso, globoso, com tamanho variável que recebe o nome de "ouriço".. As sementes ou "castanhas" são de forma angulosa, tendo no seu interior a "amêndoa", de alto valor econômico e nutricional.
O "ouriço" permanece na árvore por 15 meses, quando chega a pesar cerca de 1,5 kg. Ao amadurecer, despenca do alto da  castanheira, uma das maiores árvores da Amazônia, que chega a atingir entre 30 e 45 metros de altura.
Seu valor biológico é grande para fins alimentícios, pois contém em torno de 17% de proteína - cerca de cinco vezes o conteúdo protéico do leite bovino in natura. Fator importante, também é que a proteína esta semente possui os aminoácidos essenciais ao ser humano. Seu teor de gordura é extremamente elevado, em torno de 67% com somente 7% de carboidrato (fibras), além das vitaminas A, C, B1, B2 e B5. Rica em fósforo e cálcio é o alimento do planeta mais rico em selênio. Por não ser  de muito fácil digestão, aconselha-se mastigar muito bem a castanha-do-Pará e não exagerar na dose - 1 a 2 unidades por dia.

*****

Fonte:Conceição Trucom

*****

sábado, 5 de novembro de 2011

O que se leva do Pará?


Reza a lenda que para identificar um paraense em qualquer aeroporto do mundo basta ver se ele está com um isopor ao lado. Tal afirmação pode até mesmo ser exagerada, mas tem um teor de verdade. Não é em qualquer lugar do Brasil que é fácil encontrar pessoas indo e vindo com isopores debaixo dos braços ou no carregador de malas como o Aeroporto Internacional de Belém, Val-de-Cans - Jílio Cézar Ribeiro. Tal hábito já até fez com que uma verdadeira estrutura seja montada dentro da ponte aérea da capital para aqueles que porventura esquecerem os seus isopores repletos de comidas típicas da região possam correr atrás do prejuízo. Tudo isso para que tanto paraenses quanto pessoas de fora tenham  a possibilidade de usufruir das maravilhas que só aqui tem, como o "verdadeiro" açai, o tucupi, os bombons de frutas amazônicas, a farinha d'água e até mesmo os sorvetes da terra, pimentas, blusas com dizeres típicos e cerâmicas marajoaras.
Saudade é pouco quando se trata do Pará. É o que costuma dizer a publicitária Camila Fraga que, para tentar  se manter um pouco mais próxima dos costumes da região, vive ligando para os familiares levarem para ela um verdadeiro carregamento de comidas típicas, que ela carinhosamente de "Kit sobrevivência de Belém". "Sinto falta daquele tacacá em qualquer esquina, do caranguejo no toc-toc, tapioquinha de Mosqueiro, açai, as peixarias, um carimbó na beira do do rio, ir sozinha pro bar e ter a certeza de encontrar alguém conhecido e principalmente
da farofa de Belém, aqui nós não encontramos nenhuma que chegue perto. A farofa do Pará é a melhor do Brasil. Apesar de ter algumas dessas coisas aqui em São Paulo, tudo sempre é muito caro, e não encontramos facilmente. Por isso vivo pedindo desesperadamente o tal kit, que é composto de tucupi, jambu, maniçoba, peixe, açai, goma de tapioca, polpa de cupuaçu, pupunha e claro, muita farinha. Como moro com amigas que também são paraenses, as comidas congeladas nós vamos consumindo aos poucos para nunca ficarmos sem nada. Mas a farinha comemos quase todo dia, por isso acaba rápido. Já houve vezes em que acumulamos cinco isopores aqui em casa", revelou.
Pensando nisso, algumas lojas de dentro do aeroporto de Belém já se prepararam para  não deixar que os passageiros deixem de levar as delícias do Pará por conta de um eventual esquecimento. É o caso de uma sorveteria, que além de vender sorvetes co sabores regionais, ainda oferece aos seus clientes uma variedade de "encomendas", como sacos de farinha d'água e tapioca, além de isopores de diversos tamanhos e um freezer cheio de polpas de frutas congeladas. "A nossa culinária vende muito. Todo tipo de gente compra, desde o gringo ao paraense nato, Só que quem compra mais é gente de fora, pois os paraenses se programam com antecedência, já vão ao aeroporto com as guloseimas preparadas para embarcar. Os turistas não. Eles não sabem onde se compra e às vezes  não podem perder tempo indo nesses lugares comprar. Aí deixam pra fazer isso aquí, revelou a atendente da empresa Wangracy.
Já em outra loja, especializada em lembrancinhas do Pará, os bombons são campeões de venda. "Não tem jeito, a cara daqui são os bombons, seguidos das cerâmicas marajoaras e das blusas temáticas, que também saem muito. Além dos turistas, os paraenses sempre levam lembranças aos seus parentese amigos de fora quando viajam. Mas até por causa da diferença de preço das lojas dos aeroportos quem compra mais são as pessoas de fora", explicou a vendora da loja Gabriele Batista. O bioquímico Rômulo Fernandes é um exemplo de passageiro que sempre sai do Pará com um isopor. "Venho todos os meses para Belém visitar meus pais, moro em Macapá. Estou levando camarão seco, mas costumo levar também tucupi e cupuaçu. Os bombons  também não podem faltar.  Essas guloseimas fazem o maior sucesso onde eu moro" afirmou.
A artista plástica Lia Costa brinca que já é quase uma contrabandista de comidas típicas, pois já está acostumada a levá-las para diversos lugares do Brasil e do mundo, como Portugal, França, Rio de Janeiro e São Paulo. "As pessoas já ficam esperando a comida paraense. Quando eu viajo costumo fazer um menu paraense. Agora estou ficando mais prática ejá levo a comida sempre pronta, pois sou eu que cozinho. Levo caranguejo, camarão, tucupi, o pato já assado, as polpas de frutas pra fazer os doces e as bebidas, o jambu, o pirarucu escaldado....Já estou tão expert que a maniçoba e o vatapá já vão prontos, congelados. As farinhas não podem faltar, tanto a d'água quanto a de tapioca. A última coisa é levar as pimentas frescas congeladas e lá eu faço os molhos maravilhosos de pimenta. É um verdadeiro sucesso e os amigos conterrâneos adoram. Pra outros países eu levo camarão e carne secos e enlatados, como cupuaçu em caldas. Geralmente o anfitrião é o dono da comida e quer guardar um pouquinho pra ele, pro dia seguinte. Uma vez perguntei para uma comissária de bordo do Rio de Janeiro onde é que os passageiros de Belém poderiam pegar suas malas e ela respondeu: bem alí, onde está cheio de isopores"



Ranking de coisas que se levam do Pará:


1 - Polpa de frutas( açai, taperebá, cupuaçu, ....)
2 - Farinhas d'água e de tapioca
3 - Jambu, tucupi e outros derivados da mandioca
4 - Camarão seco
5 - Maniçoba congelada
6 - Sorvetes de frutas regionais e tapioca
7 - Bombons de castanhas e frutas regionais
8 - Blusas com dizeres típicos. Ex. Égua
9 - Cerâmicas marajoaras





Por que se orgulhar?


O paraense possui um hábito que representa bem o sucesso de sua própria culinária: a de levar as suas comidas  para diversos lugares do Brasil e do mundo. Além de divulgar as guloseimas, ainda consegue suprir as necessidades de amigos conterrâneos, que querem matar as saudades.


*****
Fonte: Diário do Pará




*


.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

TRAGÉDIA E COMÉDIA DE UM ESCRITOR NOVO DO NORTE....



Dalcídio Jurandir
Menu do Autor:
 
Último texto
Tragédia e Comédia de um Escritor Novo do Norte...
Dalcídio Jurandir


Estava um pouco aperriado com a divisão do município de Itaituba em setores censitários... Tinha vindo desse município, o maior do Brasil, com uma vilazinha jogada na solidão do Tapajós, um poeta da velha escola, com rimas ricas, que é o poeta Rodrigues Pinagé e o prefeito Fortunato, patriarcal prefeito com a mesa farta, mandando buscar a banda de música de Aveiro para tocar no aniversário de sua esposa e a sua malquerença com o judeu Moisés, gordo homem que tem a única frigidérzinha da vila e um piano em casa.

Itaituba não fica muito distante das cachoeiras e dos índios lá do alto Tapajós. Tem também a febre, criatura muito conhecida na Amazônia. Há também umas sondagens de petróleo que ficaram para outra ocasião. Tomei banho, de madrugada, num poço de água sulfurosa, água morna vinda do fundo da terra, que foi uma maravilha. Cheguei a Santarém na lancha "Eulina" rebocando o seu pontão cheio de passageiros, da gente não ter um lugar para armar rede.

Dois dias assim no Tapajós, descendo. Tapajós é um grande rio, seu povo luta asperamente contra a febre, a miséria, a ignorância, a exploração comercial e vai tirando a sua borracha, o seu caucho, couros e plantando seringa na concessão Ford. Sempre dá um movimento à concessão Ford. Pena é que não deixe que os seus trabalhadores tenham garantia alguma no seu trabalho. O Instituto dos Industriários mandou seu funcionário lá e os súditos do Rei do automóvel não quiseram se explicar. Ali na concessão quem manda é Mr. Ford e isso de Caixa de Aposentadoria e Pensões é para Mr. Ford engulir. Também tem o Dr. Mac Dowel que é um grande advogado, servido por uma incomensurável cultura dentro de biblioteca tipo castelo feudal, majestosa e a pique, com a respectiva ponte levadiça por onde sua senhoria desce para o seu austero e patriótico escritório. Mas isto não quer dizer nada com o prêmio "Dom Casmurro". Estava trabalhando quando me vieram dois telegramas. Fiquei alarmado. Minha família mora em Belém e podia ser alguma notícia má. Mas era o primeiro prêmio. E o engraçado foi que em Belém deram a noticia da vitória do romance "Marinatambalo", mandado para o concurso pelo Maciel Filho e o meu querido Abguar Bastos. de São Paulo. Quando mandei o "Chove" já o outro andava no concurso. A carta de Abguar avisando, veio na hora em que se mandava o "Chove" pro Rio. Quando minha mulher mandou o telegrama de Brício de Abreu fiquei pensando em Salvaterra, onde passei a limpo, ano passado, o “Marinatambalo” e escrevi o “Chove”.

Do "Chove" tinha uma papelada velha que se pode convencionar como material todo desarrumado e roído de traças, vindo das alturas de 1929. Me lembro que fiz essa tentativa com uma literatura desenfreada e uma pretensão a fazer estilo, que era um espetáculo. Andei escrevendo em Gurupá, depois num barracão no rio Baquiá Preto nas ilhas de Gurupá, onde era empregado. Ali ensinava os dois meninos do patrão Pais Barreto, a ler, nos livros de Felisberto de Carvalho. Passou o tempo e larguei o troço sob o peso do castigo de tanta presunção literária. Em Salvaterra pensei então retirar do entulho os personagens mal esboçados, o fio de algumas impressões vagamente fixadas e fiz o romance. Nada ficou da tentativa de 1929. Estava de férias como inspetor escolar, na vila de Salvaterra, para onde me mudei de Belém, por medida de economia. E ganhando 365$000 por mês, porque 100$000 que eu podia ganhar mais, eram para pagar a prestação da máquina de escrever que tive a loucura de comprar. Sem ela não podia ir pra frente o plano de escrever o "Marinatambalo  e o "Chove". E eu e Guiomarina, minha mulher. fazíamos os maiores malabarismos com os trezentos e sessenta e cinco. Não éramos somente nós dois em casa. Eu metido com os dois romances e ela vendo se os trezentos e sessenta e cinco rendiam mais. Tinha umas diárias de 150$000 mas foram cortadas porque vieram as férias escolares. Perdi as diárias magras e arrancadas com unhas e dentes do Sr. Pernambuco Filho, diretor da Educação, apesar de ter sido eu o único inspetor escolar que saiu de Belém sem temer febre, chuva, rompendo atoleiros, andando em montarias, para visitar as escolinhas auxiliares, perdidas no mato e no campo. Roemos uma chepa fazendo os romances. Depois o dinheiro custava a vir. Esperávamos as canoas de Belém. Uma era a "Antuérpia" e outra era a "Vila de Salvaterra". Esperávamos angustiados. Tínhamos. é verdade, a camaradagem do Valdemar cavando no boteco pra salvar o capitalzinho, do Veloso da mercearia. do David Paulo. de Soure, da família Bla. Sai com os dois romances mas fiquei devendo dois meses de casa. a sessenta mil por mês, e cento e quarenta mil no Veloso, que ainda não pude pagar.

Por essa época — me lembro de certa noite que dormi no chão porque a rede já não prestava mais e dinheiro não havia para se comprar uma nova. Foi nessa época que tive a honra de ser apresentado a uma senhora Nenê Macagi, que apareceu escritora em Belém, pirangando os moles no Pará, até com a Prefeitura de Soure. Esta senhora não me deu importância alguma, primeiro porque eu, caboclinho, estava de macacão e tamanco, segundo, porque a dita senhora era uma escritora. Muita gente ainda pensa que o Pará é terra de seringueiros coronéis. Aparece uma turminha de malandros metidos a literatos, cantoras, etc., e caem em cheio em cima do governo, sangrando o Tesouro. Os da terra ficam no peixe frito.

Ah! é notável a influência do peixe frito na literatura paraense! Peixe frito é o peixe vendido em postas nos taboleiros do Ver-o-Peso ao lado do mercado em Belém. É a comida para quem não deixa almoço comprado em casa. Ao chegar o meio dia, o pobre se tem a felicidade de haver arranjado dois mil réis leva um embrulhinho envergonhado de peixe para casa. A vida literária do Pará tem se movimentado em tomo do peixe frito. Conheço profundamente esse drama. Sempre fui empregadinho público como me chamou certo imortal (da Academia de Letras do Pará), morando numa barraca na São João, com família e perseguido pelos camisas verdes. Vocês sabem o que era naquele tempo viver perseguido pelos camisas verdes. Acabei gramando xadrez comum, o mesmo xadrez onde os ladrões de galinhas e porristas passam vinte e quatro horas. Nele passei três meses, apenas porque a infâmia dos camisas verdes chegava a tudo naquele tempo. Me ficava bem, aliás, estar em companhia daquela pobre gente em vez de estar na companhia dos autores da infâmia. E outras histórias. E outras misérias. E a vida do chamado intelectual na província é mais trágica do que se pensa. Bancamos bobos de rei, mas de graça. A não ser a honra dum convite para uma qualquer chateação literária e mais nada. O resto é o peixe frito.

Agora com a geração mais nova aparecem moços que felizmente, vieram de famílias mais remediadas. Mesmo assim estão fechados na província, isolados, boicotados, negados. Se na geração de Abguar Bastos há nomes como o desse Bruno de Menezes que tem poemas lado a lado com os melhores de Jorge de Lima e Manuel Bandeira, na geração mais nova temos um Ribamar de Moura, um dos grandes pensadores jovens do Brasil, Leví Hall do Moura, cronista admirável, Stélio Maroja, F. Paulo Mendes, Machado Coelho, Cecil Meira, Daniel Coelho de Souza. Novíssimos como Carlos Eduardo, o poeta de "Este rumor que vai crescendo", e Mário Couto, um contista dos maiores entre os jovens contistas brasileiros. Nomes como De Campos Ribeiro que acaba de publicar um belo livro de poemas. Oséas Antunes quetem três romances inéditos e muito bons, Jaques Flores, poeta de Cuia Pitinga, as poetisas Miriam Morais, Adalcinda e Dulcinéia Paraense, os desenhistas Ângelus, vindo do movimento Graça Aranha, o admirável Gari e o singularíssimo Mariz Filho. Agora mesmo o autor do filme "Aruanã", Libero Luxardo descobriu em Marabá um desenhista fabuloso mesmo. Chama-se Morbach. Seus desenhos têm muita coisa de "terreur", de bruto, de essencialmente amazônico. Aquele grande amigo que é Nunes Pereira, insatisfeito e vigoroso Nunes Pereira com a sua dispersão e os seus pés infatigáveis, rompendo todos os caminhos da Amazônia, metido com índios, peixes, selvas e febres, Nunes achou em Morbach aquilo que ele entendia como verdadeira interpretação da paisagem e da humanidade na Amazônia.

Quero fazer aqui uma referência especial a "Terra Imatura", a nossa pobre e querida revista fundada pelo meu amigo Cleo Bernardo, um novíssimo, uma alegria e um entusiasmo sem limites e uma das mais puras amizades que encontrei na minha vida. Com ele lutam Sílvio Braga, Rui Barata, além dos que já falei.

Antes de acabar estas notas escritas apressadamente para pegar a mala aérea, quero contar um pouco da história do "Chove".

Pensava acabar o romance um pouco antes do encerramento do concurso. Mas não acabei. Voltei de Salvaterra sabendo do adiamento. Mendes e Stélio leram o livro e acharam que eu devia mandar uma cópia mais limpa. Como, se faltavam vinte dias para terminar o prazo? Então Guiomarina, minha mulher, doente como se achava, se dispôs a datilografar o romance. Eu, desanimado, não dava conta e depois ocupado na luta do peixe frito e mesmo porque aceitara um lugar no Recenseamento oferecido pelo amigo Adelino Vasconcelos, delegado regional do Pará. Guiomarina, doente, em quinze dias passou a limpo o romance. Foi uma obstinação. Ela queria que eu mandasse a pulso o romance para o concurso. Por isso que todo o sucesso devo a ela.

Mas faltava o dinheiro para mandar o livro pelo avião. Só havia três dias de prazo. E com Mário Couto fomos cavar entre os amigos o dinheiro. Paulo Mendes e Stélio me deram dez mil. Jorge Malcher, cinco. E eu tinha vinte. Fui à Panair expedir o livro como encomenda por ser mais barato. Mas me disseram que não se fazia mais encomenda. Olhamo-nos eu e Mário, desalentados. Meu desejo era corresponder ao esforço da Guiomarina. Não queria voltar para casa com o livro debaixo do braço e vê-la triste, sabendo que todo o trabalho havia sido inútil. Ao menos o consolo de enviá-lo ao concurso, queríamos. Saímos da Panair e voltamos. Cavamos mais dez e fomos ao correio. Entrei na bicha e esperei a minha vez. Tinha o dinheiro na mão e aflito porque não sabia de certeza quanto era a taxa. Se fosse mais? Esperei meia hora na bicha para chegar ao guichet e ouvi do funcionário que a taxa era tanto e o dinheiro não dava. E me olhou com uma tal superioridade funcional que sai. humilhado. E eu era a desolação em figura. Faltavam vinte mil réis e onde encontrar esses vinte mil réis? Pensei no personagem do "Chove" e sai com Mário, atrás dos vinte mil réis. Vimos na Confeitaria Central o pintor Barandier da Cunha e Osvaldo Viana. meu amigo e uma das figuras expressivas nos meios de Belém. Eles nos deram os vinte. Corremos, faltava meia hora para fechar a mala. Entrei na bicha, suando e pensando em Guiomarina, em casa, esperando o resultado do trabalho. E mandamos o volume no porte simples, sem recibo, sem nada, para um rumo incerto, podendo nunca mais chegar ao DOM CASMURRO!

Tudo isso humilha e esgota a gente. Conto tudo isso rara mostrar como é que se escreve no Brasil.

Nada direi da minha vidinha literária. Nasci em Ponta de Pedras, me criei em Cachoeira, Tenho trinta e um anos, com caderneta militar de segunda categoria, etc. Cultura: estudos primários com o professor Chiquinho e Grupo Escolar Barão do Rio Branco, em Belém. Estive dois anos no ginásio. Nele desaprendi o que levara do grupo. Quase todos os professores me desanimavam, dinheiro não havia, tive sarampo, curado pela minha segunda mãe Dona Lulú, acabei perdendo os exames do segundo ano e virei vagabundo de subúrbio em Belém, morando na barraquinha de Dona Lulú que me dava comida, luz para escrever versinhos, e um sapato de quando em quando. Fui ao Rio na terceira braba do "Duque de Caxias" e acabei lavando pratos no Hotel São Silvestre, na rua Conselheiro Zacarias, passando o esfregão no corredor da pensão onde morava de favor, dormindo em cima duma colcha rota no chão e comprando para a patroa a carne no açougueiro e levando cesto feito criado quando o amante da dona ia na feira fazer compras. Tinha dezenove anos. Tinha mais dois cartões. Um para o então senador Lauro Sodré. E o outro para o doutor Gustavo Barroso. O do Dr. Lauro não dei porque não sabia a casa dele. Com o do Dr. Gustavo Barroso fui ao "Fon-Fon". E isso depois de vou-não-vou, temendo a importância do Dr. Barroso e do "Fon-Fon". Encontrei um senhorzão bem nutrido e vestido, que ao receber a minha carta me perguntou com voz sonora c confortável "sabe revisão?” ·

Me botou num caixote à espera que o revisor da revista pedisse demissão e eu ocupasse o lugar. Um dia o desânimo aumentou. Nada do revisor sair e a dona da pensão me aponta outros empregos, muito impaciente com a minha situação. E me despedi do majestoso Dr. Barroso, cujo displicente olhar caiu sobre mim com uma tranqüila superioridade e com tão solene desdém que desci a escada do "Fon-Fon" como um escorraçado.

Voltei na mesma terceira classe do “Duque". Fracasso completo. Vagabundo sempre. Papai em Cachoeira sem nada poder fazer e Dona Lulú na barraquinha me dando o que podia arranjar na sua máquina de costura. Foi então que escrevi ao Sr. Paulo Maranhão, proprietário da "Folha do Norte" uma carta floreada como página do meigo Dr. Aluízio de Castro, pedindo um cargo de suplente de revisão. Ele me respondeu de testa que "emprego era o que não havia e que fosse bater noutra porta".

A nota vai comprida demais. Escrevo apressado para não perder a mala aérea. DOM CASMURRO me lançou e nada posso dizer porque o que ele fez foi agitar a terrível questão dos pobres escritores mergulhados na província. Foi a obra magnífica de DOM CASMURRO. Nada mais posso dizer acerca do "Chove nos campos de Cachoeira", porque somente poderia dizer coisas ruins. É um livro tão meu que não sei falar bem dele, não sei explicar finalmente. Tem toda a desordem, os defeitos, as lutas dum livro sincero. Eis a coisa ruim que posso ainda dizer... Mas quero acabar que tive uma grande homenagem por causa do prêmio. Fui com o meu amigo Cronge da Silveira, em Santarém, tomar tarubá na casa de dona Ana, no bairro da Aldeia. A casa de palha, o chão batido e as moças simples e alegres cumprimentaram o "escritor premiado...” O tarubá é uma bebida fermentada de mandioca muito usada em Santarém. E naquela noite da Aldeia, num banco no terreiro, tomamos o tarubá, bebida da terra e do povo. Não me esquecerei nunca da Aldeia.

Dalcídio Jurandir nasceu na Vila de Ponta de Pedras, Ilha do Marajó (PA), em 10 de janeiro de 1909, filho de Alfredo Pereira e Margarida Ramos. Em 1910 mudou-se para Vila de Cachoeira, na mesma ilha. Ali passou sua infância, aprendendo com sua mãe as primeiras palavras.

Em 1916, passou a freqüentar a Escola Mista Estadual. Fez o curso primário do Professor Francisco Leão, em 1921. No ano seguinte, partiu para Belém, onde se matriculou no 3º ano elementar do Grupo Escolar Barão do Rio Branco.

Obtém o certificado de estudos primários, em 1924. Matricula-se, no ano seguinte, no Ginásio Paes de Carvalho. Antes de completar o segundo ano, em 1927, cancelou sua matrícula e viajou para o Rio de Janeiro (RJ), a bordo do navio do Loide, Duque de Caxias, em 1928.

No Rio, enfrentou dificuldades ao chegar. Foi lavador de pratos no Café e Restaurante São Silvestre, no bairro da Saúde. Conseguiu, após um breve tempo, o lugar de revisor na revista "Fon-Fon", onde colaborou sem remuneração. Voltou a Belém no mesmo navio, tendo aproveitado a viagem  para ler livros de clássicos portugueses e de poetas nacionais, que lhe foram emprestados por seu amigo, Dr. Raynero Maroja.

Em 1929, Dr. Raynero, como Intendente Municipal de Gurupá, no Baixo Amazonas, nomeou-o Secretário Tesoureiro da Intendência Municipal. Segue para Gurupá em outubro. Lá escreveu a primeira versão de "Chove nos campos de Cachoeira".

Em novembro de 1930, deixou o cargo para trabalhar na região das Ilhas, município de Gurupá, às margens do rio Baquiá, de propriedade de Pais Barreto, que se tornara seu amigo e ensinara as primeiras letras a seus dois filhos.

Em 1931, conclui um livro de contos e um romance, nos quais narra lembranças da infância em Marajó. Fez versos e descreveu paisagens. Retornou a Belém, sendo nomeado auxiliar de gabinete da Interventoria do Estado. Colaborou com vários jornais e revistas, como “O Imparcial”, “Crítica” e “Estado do Pará” e, no ano seguinte, na “Guajaramirim” e “A Semana”. Comunista assumido, participou ativamente do movimento da Aliança Nacional Libertadora. Foi preso em 1935, tendo ficado dois meses no cárcere.

Em 1937, foi preso novamente e ficou três meses detido. Somente em 1938 retornou a Marajó, reassumindo suas funções na Diretoria de Educação e Ensino, tendo sido designado a exercer a comissão de Inspetor Escolar em Salvaterra. Reescreve o livro “Chove nos campos de Cachoeira” e, também, concluiu seu segundo romance, “Marinatambalo”, publicado sob o título de Marajó. Colabora nas revistas “Terra Imatura” e “Pará Ilustrado”.

Em 1940, foi agraciado com o Prêmio Dom Casmurro de Literatura, concedido pelo jornal de mesmo nome e pela Editora Vecchi, com o romance "Chove nos Campos de Cachoeira". Faziam parte do júri, entre outros, Oswald de Andrade, Jorge Amado, Rachel de Queiroz e Álvaro Moreira.

Voltou ao Rio de Janeiro, em 1941, onde seu livro premiado foi lançado. Retorna a Belém e passou a trabalhar na Delegacia de Recenseamento. No final do ano viajou para o Rio de Janeiro, onde passou a exercer, em 1942, intensa atividade jornalística em “O Radical” e “Diretrizes”, sendo que neste último atuava como redator, repórter e colunista.

Em 1944, fechado o semanário “Diretrizes”, passou a redigir textos publicitários  e legendas para filmes de educação sanitária no Serviço Especial de Saúde Pública – SESP. Colabora com o “Diário de Notícias”, no “Correio da Manhã” e na revista “Leitura”.

Em 1945 e 1946, fez parte da redação do jornal “Tribuna Popular” e colaborou nos jornais “O Jornal”, “A classe operária” e na revista “O Cruzeiro”.

No ano seguinte, seu livro “Marajó” foi editado pela Livraria José Olympio Editora.

Pela "Imprensa Popular", em 1950, foi ao Rio Grande do Sul fazer uma pesquisa acerca do movimento operário do porto do Rio Grande. Desse trabalho surgiu seu livro “Linha do Parque”, escrito entre 1951 e 1955.

Viajou à União Soviética, em 1952.

Foi ao Chile, em 1953, onde participou do Congresso Continental de Cultura.

Em 1956, no seminário “Para Todos”, trabalhou ao lado de Jorge Amado, como redator.

Lança, pela Livraria Martins Editora, seu terceiro romance: “Três casas e um rio”, em 1958.

Publica, em 1959, o romance “Linha do Parque”, pela Editora Vitória.

No ano seguinte, publica “Belém do Grão Pará”, pela Livraria Martins Editora. Recebeu o Prêmio Paula Brito, da Biblioteca do Estado da Guanabara, e o Prêmio Luiz Cláudio de Souza, criado pelo Pen Club do Brasil.

A edição russa do romance “Linha do Parque” é lançada em Moscou no ano de 1962, com apresentação de Jorge Amado.

Publica, em 1963, “Passagem dos inocentes”, pela Livraria Martins Editora.

Termina de escrever “Os habitantes”, em 1967.

Em 1968, lança pela Livraria Martins Editora, “Primeira manhã”, e conclui “Chão de Lobos”, penúltimo romance da série “Extremo-Norte”.

O último romance da série acima citada, “Ribanceira”, é concluído em 1970.

Pela Livraria Martins Editora publica, em 1971, o romance “Ponte do Galo”. Aposentou-se, como escritor.

Em 1972, a Academia Brasileira de Letras concede ao autor o Prêmio Machado de Assis de Literatura, pelo conjunto de sua obra, que lhe foi entregue por Jorge Amado.

Recebe, em 1974, do Governo do Estado do Pará, o título honorífico de “Honra ao Mérito”.

A segunda edição de seu romance “Chove nos campos de Cachoeira” é lançada em 1976 pela Livraria Editora Cátedra. “Os habitantes” é publicado pela Editora Artenova. Lançou, também, pela Record, o livro “Chão dos lobos”. Fez diversas viagens a nações da América do Sul e a países socialistas e europeus.

“Ribanceira” foi publicado, pela Record, em 1978, e, no ano seguinte, a segunda edição de “Marajó”, pela Cátedra.

No dia 16 de junho de 1979, o escritor falece na cidade do Rio de Janeiro (RJ), sendo sepultado no Cemitério de São João Batista.

A prefeitura de Belém homenageia o autor, dando seu nome a uma praça pública naquela cidade.

O prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Dr. Israel Klabin,  dá seu nome a uma rua no Condomínio Riviera dei Fiori, na Barra da Tijuca.

Em Ponta de Pedras, sua cidade natal, há uma escola com seu nome.

Em 2001 concorre com demais personalidades ao título de "Paraense do Século". No mesmo ano, em novembro, é realizado o Colóquio Dalcídio Jurandir, homenagem aos 60 anos da primeira publicação de Chove nos Campos de Cachoeira.

Em 2003, foi criado o Instituto Dalcídio Jurandir, na Casa de Rui Barbosa, na cidade do Rio de Janeiro. O Instituto foi idealizado pelo Professor Ruy Pinto Pereira, que é seu presidente. Na ocasião, todo o acervo do autor foi doado por seus filhos — Margarida e José Roberto — para o Arquivo–Museu de Literatura Brasileira daquela Casa.

Em 2004,
  Dalcídio foi o patrono da VIII Feira Pan-Amazônica do Livro, ocorrida entre 17 e 26 de setembro daquele ano.
Obras:
Série “Extremo-Norte”:

Chove nos Campos de Cachoeira (1941)

Marajó (1947)

Três Casas e um Rio (1958)

Belém do Grão Pará (1960)

Passagem dos Inocentes (1963)

Primeira Manhã (1968)

Ponte do Galo (1971)

Os Habitantes (1976)

Chão dos Lobos (1976)

Ribanceira (1978)

Série “Extremo-Sul”

Linha do Parque (1959)

Publicações póstumas

Passagem dos inocentes – Editora Falângola, 1984

Chove nos campos de Cachoeira – Editora Cejup, 1991

Marajó – Editora Cejup, 1992

Três casas e um rio, Editora Cejup, 1994

Chove nos campos de Cachoeira – Editora Cejup, 1996

Belém do Grão-Pará - Edufpa/Casa de Rui Barbosa, 2004
Outras:

O biografado fez versos que foram musicados por Gentil Puget.
Os dados acima foram obtidos em sítios da Internet e na Revista Asas da Palavra do Curso de Letras, publicada no dia 27 de junho de 1996 pela Universidade da Amazônia (UNAMA), com o tema “Dalcídio Jurandir”

Este texto é o prefácio da 1ª edição de “Chove nos Campos de Cachoeira” (1941), Editora Vecchi, autorizado a ser reproduzido no Releituras pelos filhos do romancista Dalcídio Jurandir.

Site: http://www.dalcidiojurandir.com.br

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Expo Marajó e Búfalo Fest foram sucesso de público

:

O resgate da cultura marajoara voltado para o turismo na maior ilha fluvio marinha do mundo, foi a proposta da Exposição Agropecuária do Marajó e o Búfalo Fest, que encerrou no último domingo (30), no Parque Irval Lobato, no município de Soure. O evento atraiu visitantes de todas as cidades do arquipélago, de Belém e turistas de outros Estados.
Foi grande também a participação popular na programação técnica, que incluiu cursos de boas práticas agrícolas, manipulação de alimentos e informática, ministrados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). A gincana escolar teve o objetivo de atrair o interesse dos jovens para a feira.
A Expo Marajó deste ano também marcou a volta da corrida rústica do cavalo marajoara, que tem duração de dois dias, desde Cachoeira do Arari até Soure. O rodeio foi um dos eventos mais frequentados, mas a corrida de búfalo, o basquete de cavalo e as lutas marajoaras também atraíram a atenção dos visitantes.
Na parte gastronômica da Expo Marajó, o sucesso foram os concursos culinários como o de linguiça, frito do vaqueiro e o queijo marajoara, que foi tema do evento. Feito com o leite de búfala de forma artesanal, o queijo do Marajó é muito apreciado em pratos saborosos que foram degustados na feira.
A Exposição do Marajó foi a pioneira do Pará, realizada há 47 anos e há três acontece junto com o Búfalo Fest, que mostra todo o potencial da produção agropecuária marajoara. A forte mobilização deste ano animou os organizadores do evento que prometem trabalhar para repetir o sucesso na exposição de 2012.
(Agência Pará)


*****
Fonte: Jornal Diário do Pará

*****

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Alvorada Amazônica - ANTONIO JURACI SIQUEIRA


ALVORADA AMAZÔNICA


I


Nada tem maior encanto 
que uma alvorada amazônica!
nenhuma orquestra sinfônica
tem sons com tanto quebranto!
Tampouco existe, eu garanto,
tons que retrate a alegria
com mais beleza e poesia!
E, nesse quadro tão belo,
o sol é um cravo amarelo
nas mãos rosadas do dia!


II

Alvorada! Deus, sorrindo,
abre a porta do céu
e se vê, nesse painel
um leque de luz se abrindo
e um grande clarão surgindo!
E então, na loura avenida,
chega o sol, guardião da vida,
que, em favor da humanidade,
vem roubar a castidade 
da manhã recém-nascida! 


III

Tudo é magia e beleza
quando finda a madrugada
e o canto da passarada
engravida a Natureza
que expressa toda a grandeza
quando o sol, com galhardia
a loira crina arrepia
e Deus, Pai Onipotente,
com suas mãos, docemente,
abre a porteira do dia!


IV

Morre a noite, nasce a aurora
com seu brilho radiante
e nesse preciso instante
em que as trevas vão embora
surge no céu, sem demora,
para cumprir seu afã,
com sua mão tecelã,
o sol, rendeiro celeste,
e, com véu dourado, veste
os seios nus da manhã!


V

Muge o boi, canta o socó
tudo se veste de encanto
quando o sol estende o manto
nos campos do Marajó!
O rio, a mata, o igapó,
a praia.....Tudo reluz
na alvorada e me seduz
ver, nessa incrível aquarela,
que o olhar de Deus se revela
entre cascatas de luz!

*****

Salve o poeta marajoara Juraci Siqueira!!!



*****